terça-feira, 20 de julho de 2010

A crítica da crítica da Telepresença


Este texto se baseia numa história em quadrinhos, mas infelizmente não consegui a imagem para postar aqui. Coloquei então o texto bem descritivo para que possamos entender bem.

A crítica da crítica da Telepresença

A história em quadrinhos apresentada mostra uma realidade possível e caótica baseada em ideias deturpadas de tecnicistas e pessoas que se confundem devido ao medo da telepresença excessiva.

Para melhor entendimento, traçarei o que o autor evidenciou em sua obra. A história mostra uma prostituta high tec se relacionando através de uma espécie de cibersexo (neologismo é sempre importante), ou seja, uma relação sexual através da imagem. A prostituta (no caso da personagem) está em um ambiente e o personagem homem está em outro. Ambos interagem através da telepresença como em telesexo (sexo por telefone), porém com a adição da imagem gerada por um aparelho gerador de imagens em movimento como a TV ou um monitor de computador. Essa questão da substituição do encontro físico para um encontro virtual é apenas um medo infundado. Podemos pegar como exemplo clássico, muito usado por Pierre Lévy em seu livro cibercultura, o telefone. Muitos acreditavam que o uso do telefone, por ser uma forma de comunicação que não precisasse de uma intervenção física, acarretaria em menos contatos físicos entre os seres humanos. O que na verdade aconteceu foi justamente o contrário, pois as pessoas que mais falam ao telefone, seja fixo ou celular, são as pessoas com uma vida social mais ativa; encontram mais pessoas do que as pessoas que pouco utilizam o aparelho. Este é o mesmo medo tolo que existe acerca da telepresença através da internet.

Um outro medo comum, porém mais real (até certo ponto), é o da fiscalização e monitoramento do que acontece na rede. No caso da história apresentada, oficiais de uma organização ligada ao Estado percebem que um crime está acontecendo em um dos “grampos” de internet usada em TVs digitais de um futuro próximo. O crime, propriamente dito, é a prostituição virtual. Nesse caso o Estado possui poder suficiente para monitorar as vidas dos cidadãos. Hoje, é algo tecnicamente impossível (bem... nem tão impossível assim) de ser feito, pois ainda não descobriu-se nada que fosse capaz de quebrar a criptografia (forma de escrita em código que possibilita a execução e transferência de dados na rede, e que permite total privacidade). Um outro ponto é o fato de não haver possibilidade humana de observar o mundo inteiro, por isso os Estados vêem a internet como uma terra de todos e de ninguém, onde não há territórios nacionais e onde fronteiras de mapas mundi são apenas desenhos em papel. Não há forma de essas cenas acontecerem, pelo menos, não dessa maneira. A única forma de repressão possível, humana e tecnicamente falando, é o uso de programas que não façam possível a reprodução de sites (ou sítios se preferir), que não sejam da mesma linha de pensamento do Estado vigente. Um exemplo fácil é a proibição de diversos serviços Google na China.

O Estado mostrado na história em quadrinhos assemelha-se muito aos anos da repressão militar em alguns países como: Itália, Alemanha e Brasil. O Estado é extremamente repressor, o oposto do proposto pela internet, pois é um lugar livre de qualquer amarra política, devido ao seu caráter expansionista descontrolável. Além disso, há o monitoramento de toda a população que interage através da internet embutida em TVs digitais, que servem como portais para trocas de realidades. Sem dúvida, vista de uma forma pouco estudada e muito pessimista. As pessoas vivem em pequenos mundos dentro de suas casas e vivem apenas pela telepresença. A telepresença é um meio de comunicação muito eficaz, contudo não é o único. Ela é vista com receio por alguns pessimistas, que se acham visionários. Contudo, ela é apenas mais um meio de comunicação que chegou para somar e não dividir. O mundo virtual (intangível) é apenas a extensão do mundo físico (tangível) e não um mundo que deva-se viver somente.

Historicamente, podemos constatar que as novas tecnologias de informação aparecem para facilitar a comunicação entre os seres humanos e não aprisioná-los em casulos particulares onde apenas viveriam virtualmente e nunca fisicamente. Com a invenção da escrita as pessoas não pararam de falar; com o surgimento da fotografia as pessoas não deixaram de apreciar uma obra de arte; com o surgimento do cinema as pessoas não deixaram de ir ao teatro; e com o surgimento do telefone e, mais recentemente, da internet e sua questão de telepresença as pessoas não deixaram e não deixarão de sair de casa para se relacionarem pessoalmente com ninguém. Essa imagem, quase que fantasmagórica, de uma pessoa que não consegue sair da frente de uma tela de computador é apenas um mito, usando uma minoria como exemplo de catástrofe global. Os cavaleiros do Apocalipse estão longe de chegar através de um e-mail.


Um comentário:

  1. Concordo, Renan.
    Toda vez que chega algo novo, as pessoas começam a especular ao redor daquilo. Quando surgiu o rádio falaram que o impresso acabaria, quando surguiu a TV falaram que o rádio acabaria. Mas sempre acabam sendo especulações sem fundamento.
    A verdade é que as pessoas, como um instinto natural, têm medo daquilo que elas não conhecem. Então sempre acabam pensando nas coisas ruins que algo desconhecido pode trazer. É o que acontece com o futuro da internet agora.

    ResponderExcluir